Por Sheylla Alves
Comunicação CFC
Apesar dos avanços históricos na inclusão da mulher nos mais diversos segmentos da sociedade, ainda é preciso seguir um longo caminho em prol da paridade e inclusão do feminino. Nos ambientes organizacionais, a mulher tem ocupado, nas últimas décadas, mais espaços de liderança, um reflexo também observado no aumento da educação de meninas e mulheres.
É possível partir de uma perspectiva macro e decorrer para uma micro, em que a sociedade e as organizações se encontram e promovem espaços para que mulheres possam ocupar mais espaços de poder. No Conselho Federal de Contabilidade (CFC), diversas medidas já foram adotadas para que as mulheres contadoras estejam ainda mais presentes nas áreas atuantes. Hoje, mais de 43% dos registros de profissionais ativos nos Conselhos Regionais de Contabilidade (CRCs) são de mulheres, uma porcentagem que representa também um esforço social para que a profissão contábil não seja vista apenas como uma formação e profissão para homens. Um passo traçado desde o momento em que se entra em uma escola.
O protagonismo feminino na Contabilidade
Para a presidente do Conselho Regional de Contabilidade de Santa Catarina (CRCSC), Marisa Luciana Schvabe de Morais, a observação é que “de fato, estamos em um momento em que existe um protagonismo feminino em muitas áreas e nas Ciências Contábeis não tem sido diferente”, afirmou. Para ela, que é professora universitária e está neste ambiente de forma cotidiana, “as salas de aula dos cursos de graduação também refletem esse protagonismo, na medida que uma boa parcela dos alunos dos cursos superiores de Ciências Contábeis, hoje, é do sexo feminino, diria que mais da metade do público. O que significa que o mercado de trabalho, muito em breve, absorverá mais mulheres do que homens para atuar na nossa área”, detalhou.
Onze mulheres estão à frente de CRCs em todo o Brasil, um trabalho que envolve também a participação de conselheiras e membros de comissões. É dessa forma que o protagonismo feminino ocupa espaços e promove o acolhimento de meninas e de mulheres, em lugares como o CFC, que permitem políticas de gênero de interesse inclusivo. Por isso, a criação da Comissão da Mulher Contabilista — CFC Mulher possibilita e contribui para que contadoras ocupem posições em organizações, empreendimentos e se sintam mais envolvidas com a classe. Uma visão que a coordenadora da comissão, Marlise Alves, entende como ocupação de lugares aos quais a mulher pertence. Afinal, o “lugar da mulher é onde ela quiser, inclusive na Contabilidade”, comentou.
Esse protagonismo no Sistema CFC/CRCs expõe como a sociedade tem incluído o feminino em suas pautas sociais. Para Marlise, é possível observar essa pauta de forma latente nas universidades. “Em 2016, quando comecei no CRCSC, fui ministrar uma palestra no curso de Ciências Contábeis da Universidade de São José. Levei um susto quando abri a porta da sala e vi que a maioria das estudantes eram mulheres. No período em que eu estava na academia, me formei em 1997, a realidade era outra: em torno de 80% de homens e 20% de mulheres”, relatou.
Enxergar a participação das mulheres e a ocupação de espaços de poder diante de uma perspectiva de macro para micro, isto é: da complexibilidade social em que vivemos para o ambiente corporativo, escolar ou de participação de grupos específicos, é permitir que a participação feminina seja crescente. Isso é a possibilidade de retirar uma camada social que faz com que as ações de meninas sejam minimizadas, mas sim utilizadas como ferramenta de promoção do empoderamento feminino.
Os desafios de ser mulher
Marlise nos contou um pouco sobre isso, ao citar um experimento chamado “corra como uma garota”, que foi realizado por uma empresa e divulgado como propaganda de marketing. Na experiência, homens, mulheres, meninos e meninas foram desafiadas a realizarem diversas atividades e, quando os avaliadores disseram “corram como uma garota”, tanto os homens, meninos e mulheres, mostraram trejeitos que minimizam as ações de uma garota. Apenas as meninas tiveram uma reação diferente. “A experiência mostrou que, durante a puberdade, a autoconfiança das meninas-mulheres pode ser prejudicada. Isso é educacional e é nesta cultura que estamos inseridas, uma cultura social que nos faz acreditar que não temos potencial para alcançar lugares à frente de empreendimentos ou cargos de liderança”, refletiu Marlise.
Segundo dados disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2018, um estudo sobre estatísticas de gênero mostrou indicadores em que a proporção de mulheres, de 25 anos ou mais de idade, com ensino superior completo era de 23,5%, já os homens ficaram com 20,7%. No que diz respeito à frequência escolar do ensino médio, as mulheres também contam com 73,5% contra 63,2% dos homens. E, ainda assim, as mulheres ganhavam 21,2% a menos que os homens.
A pergunta que fica é o porquê de as mulheres estarem mais escolarizadas e ainda assim atingirem espaços de poder com menor frequência, e quando atingem, em sua maior parte, possuem a faixa salarial menor. O IBGE tentou responder a esse questionamento, ao trazer um cenário específico sobre as desigualdades no mercado de trabalho. A justificativa está na escolha de ocupações que precisam de uma jornada de trabalho mais flexível, consequentemente com menor carga horária de trabalho. Porém, as mulheres possuem uma carga de afazeres domésticos ainda pesada em comparação aos homens, que permeia também os cuidados com os filhos e situações sociais, que as fazem trabalhar muito mais além do trabalho formal. É o que Marisa Luciana detalhou ao falar da atuação multifacetada da mulher e da profissional da contabilidade, porém acentuando que essa pluralidade é uma qualidade e não um defeito.
“Ao mesmo tempo que são profissionais atuando como contadoras, são pessoas contribuindo para o sistema, são mães, são esposas, são filhas. Essa condição de fazer muitas coisas, de ser multifacetada, acredito que seja uma particularidade muito importante das mulheres”, acrescentou a presidente do CRCSC. Marisa também disse que pode parecer otimista demais, mas que esses caminhos estão se abrindo naturalmente. “Seja no meio classista, como o nosso, seja no mercado de trabalho, nos altos cargos de gestão, acho que estamos conseguindo ocupar esses espaços com mais tranquilidade, mas ainda há, claro, uma diferença em termos numéricos, mas o próprio cenário no Brasil e no mundo já aponta para uma diferença cada vez menor. As mulheres, com seu trabalho dedicado, estão provando, seja qual for o empreendimento e ramo, que estão em total condição de ocupar esses espaços”, defendeu.
A promoção de espaços em que a mulher atue como protagonista é o que muda essa história. Marlise Alves cita que as mulheres possuem mais possibilidades atualmente, algo também promovido pela Comissão do CFC Mulher. “Temos competências para atuar como contadoras, como gestoras, como donas de negócios. Nossa formação profissional nos possibilita escolhas de carreiras prósperas, liderando pessoas e equipes. Vejo que a participação feminina no sistema CFC/CRCs vem para corroborar esse aspecto, auxiliando no posicionamento da mulher atuante na Contabilidade, no seu próprio desenvolvimento pessoal e da categoria”, ressaltou.
O Encontro Nacional da Mulher Contabilista (ENMC)
Desenvolver lideranças femininas nos mais diversos espaços sociais é um desafio e a Comissão Nacional da Mulher Contabilista – CFC Mulher tem estimulado essa mudança. São mais de 30 anos em que o Sistema CFC/CRCs promove o aprimoramento técnico-cultural de contadoras e técnicas em contabilidade, incentivando a mulher a ocupar ainda mais espaço na Contabilidade, no empreendedorismo e nas organizações.
E em homenagem ao lançamento e início da contagem regressiva para o 13º Encontro Nacional da Mulher Contabilista (ENMC), que acontecerá em setembro de 2023, o CFC trouxe a voz dessas mulheres, como a Marisa Luciana e a Marlise Alves, que fazem história na Contabilidade e no engajamento feminino do CFC e na região Sul, que fazem parte junto ao CRCSC.
A presidente do CRCSC ressalta que esse tipo de evento “se veste de grande importância na medida que traz para o cenário nacional a relevância da Ciência Contábil como um todo e da atuação das mulheres na área, o que é de muitas formas determinante para os destinos da nossa profissão, dada que uma boa parcela dos profissionais registrados já são mulheres”, opinou Marisa.
E, para finalizar, a coordenadora da comissão fez um convite especial para todos. “Eu quero encontrar pessoalmente muitas mulheres neste evento. Quero conhecer cada realidade deste grande país. É um momento único para fazermos networking, para valorizarmos nossa própria história de sucesso na Contabilidade. É também a grande oportunidade de planejarmos os próximos passos da nossa carreira contábil. Então, não dá para perder, espero muito que você que leu estas linhas até aqui esteja lá com a gente. Te espero!”, finaliza Marlise ao convidar todos a participarem deste que é um dos mais aguardados eventos da Contabilidade.
A reprodução deste material é permitida desde que a fonte seja citada.