Por Amanda Oliveira
Comunicação CFC
Um profissional dotado de saberes e com a responsabilidade de transferir o seu conhecimento para as próximas gerações. Essa é a nobre missão dos professores. Para fechar o mês de outubro, em que celebramos o papel desta figura fundamental no processo de ensino-aprendizagem, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) entrevistou o contador Antoninho Marmo Trevisan.
Sua jornada como professor teve início há mais de 40 anos, quando ele ministrava cursos de auditoria para executivos. Após uma formação docente na Argentina, Trevisan passou a lecionar Contabilidade na graduação de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O indicado à condecoração Mérito Contábil João Lyra e apaixonado pela educação fundou uma Escola de Negócios. Hoje, a instituição adota o modelo de Educação Digital em todos os seus programas (graduação, pós-graduação e MBA, cursos internacionais, de educação executiva e customizados para empresas) e é referência no segmento. Em alusão à data comemorativa, Trevisan fala sobre a prática docente na área contábil. Confira:
(CFC) Em que o ensino da Contabilidade se diferencia das outras áreas do saber?
Ser professor de Contabilidade requer uma capacidade de atualização constante. Isso porque nós lidamos com normas e leis que se alteram em uma dinâmica que talvez não aconteça em outras cadeiras. Todas essas mudanças afetam tanto a prática quanto o ensino. Por isso, precisamos estar atentos ao difundir as práticas para os futuros profissionais da contabilidade. Em meio a esse processo, também enxergo o fortalecimento das entidades contábeis como fator crucial para a difusão de informações oficiais. Sites, como os do CFC, dos Conselhos Regionais e das Academias de Contabilidade, dispõem de grandes recursos. Essa disponibilidade de informação oficial, detalhadas e, muitas vezes, comentada, facilita a atividade do professor, pois é uma farta oportunidade de conhecimento que ele tem à sua disposição.
(CFC) Cotidianamente, nas Ciências Contábeis, fazemos uso de muitos aspectos técnicos. Como unir prática e teoria?
Em minhas aulas, sempre utilizei o princípio da curiosidade. Inserir questões ligadas ao dia a dia sempre gera nos jovens o interesse em aprender Contabilidade. Quando o estudante relaciona o ambiente dele consegue facilmente trabalhar com o que está por vir do ponto de vista teórico. À medida que eles se entusiasmam, nós apresentamos a metodologia de como fazer um balanço, por exemplo. Depois tudo acontece naturalmente. Os desafios também ajudam a tornar a aula mais dinâmica. O que eu pratico como docente é levá-los a se apaixonar pela história da Contabilidade. Quando eu os levava a sonhar com a matéria que estavam aprendendo, aquilo já não era mais apenas um estudo técnico. O que podia ser algo maçante se tornava o contrário. Era algo que eleva o espírito e levava o estudante a investigar e a pesquisar a arte por trás de nossa área.
(CFC) O que a pandemia trouxe de desafios e oportunidades?
A pandemia acelerou processos tecnológicos e de digitalização. Antes, era incomum ver tantas pessoas aprendendo a distância. De repente, isso se tornou uma necessidade. A partir daí, imagino que muitas pessoas descobriram que essa modalidade é tão boa quanto o ensino presencial – ou até melhor (risos). Francamente, esse procedimento é árduo e bastante complexo. Não dá para estabelecer uma educação a distância do dia para a noite. Isso requer planejamento, tempo e investimento. De todo modo, acredito que isso veio para ficar; não há retorno. As pessoas aprenderam a admirar. A eficácia é comprovada pelo desempenho dos alunos. Na Trevisan Escola de Negócios, observamos que, no Exame de Suficiência, a aprovação de alunos da Educação a distância (EaD) foi superior à do ensino presencial. Condições como comodidade, possibilidade de rever aulas e maior disposição física e emocional influenciam o processo de aprendizado.
(CFC) Qual é o futuro da profissão?
A carreira docente passa por uma enorme transformação. Certamente, estamos explorando novos formatos. Hoje observamos uma hibridização das áreas. Por exemplo, é comum ver professores de Contabilidade especializados em web design, cenografia ou direção de arte. Com a tecnologia e internet, a internacionalização do ensino também se tornou tendência. Termos de cooperação e acordos entre instituições oferecem a oportunidade de uma troca multicultural e uma expansão dos horizontes da pesquisa. Em nossa escola, a partir do segundo semestre de 2020, lançamos a oportunidade de alunos de qualquer parte do mundo estudarem conosco. Atualmente, temos alunos de 20 países, sendo que os primeiros a se matricular foram dois jovens brasileiros, advogados, que residem e trabalham em Budapeste. Com a transformação em escola 100% digital, fizemos uma chamada para professores de várias partes do mundo. É incrível a quantidade de brasileiros que são professores nas melhores escolas do mundo ou que trabalham em grandes consultorias que se candidataram a fazer parte do nosso time de docentes. O primeiro caso de adesão foi de um sócio da KPMG da Holanda, que trabalhou quase 10 anos no Brasil e é um dos maiores especialistas em IFRS. A vantagem é que nossos alunos podem ter colegas em diferentes regiões do mundo. Consequentemente, isso aumenta a sua visibilidade internacional e lhes abrem as portas para intercâmbios e outras experiências. Apenas no presencial, isso não seria possível. Recentemente, também anunciamos um novo cronograma de cursos que faz parte de uma aliança internacional com a London School of Business and Finance (LSBF) e a London Academy of Trading (LAT) e lançamos um e-book sobre trading, que também é fruto da parceria com a LAT. Essa rede está sendo formada em vários lugares do mundo e oferece uma colaboração multilateral e multicultural. Todas essas ações impactam o corpo acadêmico, desde os docentes até os estudantes.
O que digo para os futuros professores é que não basta deter conhecimento, mas o mais importante é saber como transmiti-lo. Essa é a natureza da docência. No dia a dia, nós precisamos ter a percepção da singularidade humana. Cada aluno tem uma particularidade no processo de aprendizagem. Enquanto uns têm mais dificuldade, outros aprendem com facilidade. Daí a necessidade da sensibilidade de o professor observar e identificar as especificidades de cada um. Ao longo de toda a vida, acumulamos conhecimento, mas, para doarmos o saber, precisamos exercer a generosidade.
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