Por Lorena Molter
Comunicação CFC
O painel de encerramento do evento Rumo à COP 30 – Contabilidade: Transparência para um Futuro Sustentável abordou Governança e o Impacto no ESG. A atividade aconteceu, nesta terça-feira (14), no auditório do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e também ofereceu transmissão pelo canal da entidade no YouTube. A iniciativa é uma realização do CFC e do Instituto de Auditoria Independente (Ibracon).
A moderação do painel foi realizada pela conselheira do CFC e professora doutora, Sônia Gomes. A profissional conduziu o momento de uma forma diferente e dinâmica: fez perguntas sobre o tema para que cada painelista respondesse ao público.
"Eu acredito que nós vamos fazer uma COP espetacular. A Ana Toni, que está à frente de uma das coordenações da COP, disse que uma das metas dessa COP é fazer entregas viáveis e também escaláveis. O papel é pegar todas as discussões, promessas e acordos que foram feitos nas COPs anteriores e fazer com que entreguemos soluções factíveis, possíveis de serem implementadas. Esse é o nosso desafio nessa COP 30. Essa discussão passa por financiamento. É imprescindível discutir financiamento, principalmente para apoiar os países emergentes, como o Brasil. E faz todo o sentido falar de Contabilidade quando se fala de financiamento, de captar recursos e de governança", afirmou.
A membro do bord do Iesba, Vania Borgerth, o líder do Grupo de Trabalho (GT) Sustentabilidade e ESG do Ibracon, Reinaldo Oliari, e a membro do colegiado de apoio ao Conselho do IBGC, Gabriela Blanchet apresentaram o assunto nesse quarto painel.
A primeira pergunta apresentada por Gomes foi Como a transparência das informações contábeis de sustentabilidade pode impulsionar compromissos e investimentos do Brasil rumo à COP 30?. Blanchet respondeu à pergunta a partir da perspectiva das empresas e das organizações. A painelista disse que a COP 30 é uma grande vitrine, onde o mundo inteiro está olhando para o Brasil, para as oportunidades que estão na mesa e, consequentemente, para as empresas. “Eu costumo dizer que a transparência, na divulgação das informações, é um grande competitivo estratégico”, afirmou.
A profissional ainda destacou a relevância da governança e posicionou a transparência como uma vantagem competitiva e estratégica. “A governança corporativa é a base de tudo. Não é à toa que o ‘G’, está ali no ESG (ambiental, social e governança). Não foi uma ‘letrinha perdida’. Não estava faltando uma letrinha e resolveram colocar o ‘G’. Há uma razão de ser. Não há de se falar em boas práticas sociais, ambientais e climáticas se não há na organização uma governança corporativa bem estruturada, processos e procedimentos bem definidos, se não temos esse tema fazendo parte da agenda da alta liderança”, orientou. E completou: “A transparência é um dos princípios que faz com que os investidores tenham conhecimento do que têm ali naquela organização, o que ela faz e se é coerente com o que a organização prega. Eu costumo dizer que um vaso só é realmente transparente se você consegue enxergar o que tem dentro”, analisou. Blanchet ainda reforçou que ser transparente é divulgar informações para além do que é exigido pela legislação, o que aumenta a confiança das partes interessadas, os stakeholders.
Em seguida, Sônia Gomes questionou os painelistas sobre o papel dos conselhos na implementação da IFRS S1 e S2. Reinaldo Oliari destacou que a adoção antecipada dessas normas e a análise dos impactos das decisões no coletivo são caminhos a serem observados. “A adoção prévia das normas facilita muito a empresa, as companhias, os órgãos reguladores como um todo, qualquer governança, a pensar o que é melhor para aquela entidade que representa e qual é a sua responsabilidade. Quando você estrutura um relatório futuro, [que aborda] se uma empresa é sustentável ou não, você repensa: ‘será que a minha estrutura de governança é apropriada? Estou tomando decisões para o que é melhor para aquela entidade que represento ou estou tomando [decisões] em benefício próprio e individualmente, pensando na minha remuneração, no meu bônus ou eu preciso pensar no que é melhor para os meus investidores que estão depositando caixa e confiança nessas informações e podem tomar decisão de sair ou não do negócio?’ A adoção prévia faz com que as organizações repensem se a estrutura de governança é apropriada”, contextualizou.
Borgerth adicionou informações históricas sobre a construção das normas de sustentabilidade e a relevância de se ter relatórios que possam ser comparáveis. “Muita empresa ainda pensa, infelizmente, que um relatório é um luxo burocrático, que as empresas fazem para poder divulgar ao mercado e a empresa mesmo não lê. A grande vantagem de o relatório ser mandatório e ter critérios específicos para ser elaborado é que você muda essa perspectiva. Os órgãos de governança são responsabilizados pelo conteúdo da informação que é divulgado. Para você divulgar uma informação, você precisa saber. Então, você é obrigado a olhar para dentro e, quando você olha para dentro, você encontra os seus riscos e as suas oportunidades. A sua gestão ganha com isso e você não tomará mais decisões baseadas no ‘eu acho’. Vai tomar decisão [baseada] no ‘eu sei’”, explicou.
A contadora refletiu sobre como a existência de informações incorretas podem afetar, inclusive, as políticas públicas. “[A partir das normas de sustentabilidade] A empresa deixa de querer copiar o relatório do outro porque o relatório do outro não a espelha. Eu tenho que olhar para a minha própria realidade, para contar a minha verdade. É isso que vai fazer a diferença no mundo. Porque, se as empresas não são verdadeiras naquilo que elas reportam, as decisões são equivocadas. Os investidores e os mercados perdem”, disse. E completou: “Muitas vezes, nós dizemos que ‘essa história de sustentabilidade’ é coisa para o governo resolver. Não! Na verdade, cada um tem a sua reponsabilidade nisso: o que é papel do governo é só o governo que faz. O que cabe às empresas, é das empresas; mas, o que é o papel do cidadão, cabe a cada um de nós. Mas, se as empresas não são verdadeiras, vira um ciclo vicioso porque a informação que o governo recebe para poder fazer políticas públicas está truncada. Se a informação não é verdadeira, as políticas públicas que serão feitas são, igualmente, truncadas”, concluiu.
Para conferir todas as perguntas feitas e as respostas dadas pelos painelistas, assista aqui.
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