Por Rafaella Feliciano
Comunicação CFC
A contadora Regina Célia da Silva Paiva tem uma rotina movimentada. Aos 32 anos, trabalha, estuda e também exerce as atividades de casa e cuida do filho de nove anos. No escritório de contabilidade, ela não está sozinha. São mais oito mulheres atuando juntas, com as mesmas atribuições que os outros três colegas contadores.
Regina é uma das 224 mil contadoras e técnicas em Contabilidade que integram uma das profissões em que a equidade de gênero caminha a trilha da realidade. De acordo com dados do Conselho Federal de Contabilidade, atualmente, as mulheres representam mais de 40% da classe. Em números exatos, são 224.796 mil contadoras, enquanto os homens somam 300.528 mil. A expectativa é de que, em menos de 10 anos, o cenário seja 50% para cada gênero.
“A meu ver, a mulher é mais atenciosa que o homem e acho que esse fato é um dos motivos pelo nosso crescimento no mercado de trabalho, porque a Contabilidade exige cada vez mais conhecimento e atenção na execução dos serviços”, afirma Regina Célia. Além disso, ela ressalta que a maioria dos seus clientes é composta de mulheres, o que reforça o empoderamento feminino no desenvolvimento econômico do Brasil.
Impulsionada pela família, que é formada por quase 70% de profissionais na área contábil, a jovem conta que na universidade a presença feminina já era expressiva. “Quando entrei na faculdade, em 2003, as mulheres já eram quase 50%, por isso, não me recordo de ter sofrido preconceito por ser mulher”, conta. E não foi apenas uma impressão da contadora. Segundo o Ministério da Educação, em 2016, as alunas nos cursos de Ciências Contábeis no País somavam 205.300 mil, enquanto os homens apenas 150.125 mil.
Grandes conquistas no mundo contábil
Para comemorarmos os avanços significativos da equidade na profissão contábil, tivemos a luta expressiva de muitas lideranças femininas nesse espaço, como é o caso do trabalho incansável da presidente da Academia Brasileira de Ciências Contábeis (Abracicon), Maria Clara Cavalcante Bugarim.
“A partir da iniciação educacional fora dos muros de casa, saímos para assumir um novo papel na ascendência política e econômica, não somente da família, mas da sociedade. Voamos mais alto durante o caminhar desses últimos dois séculos. Nossa instrução nos arremessou rumo ao desconhecido para a busca do pleno conhecimento filosófico-científico em seu mais alto grau, e a nossa vontade de vencer nos permitiu criar, realizar, ousar, abusar da nossa criatividade, sem, contudo, perder a ternura e deixar de sonhar”, ressalta Maria Clara.
Alagoana, Maria Clara possui três graduações (Ciências Contábeis e Administração, pelo Centro de Estudos Superiores de Maceió; e Direito, pela Universidade de Fortaleza), e duas especializações em Auditoria e Administração em Recursos Humanos, pelo Centro Universitário Cesmac-Fejal. Tornou-se mestre em Controladoria e Contabilidade, pela Universidade de São Paulo, e doutora em Engenharia e Gestão do Conhecimento, pela Universidade Federal de Santa Catarina. Concluiu, ainda, o seu segundo doutorado em Contabilidade, pela Universidade de Aveiro, em parceria com a Universidade do Minho, ambas em Portugal.
Conhecida por sua determinação e por quebrar paradigmas, desde muito cedo vem ocupando posições de destaque nas áreas governamental, acadêmica e das entidades de classe, assumindo com brilhantismo cargos até então nunca ocupados por mulheres.
Com uma vida profissional marcada pela arrojada atuação nas entidades de classe, presidiu por duas gestões o Conselho Regional de Contabilidade de Alagoas (1998 a 2001), a Fundação Brasileira de Contabilidade (2002 a 2005) e o Conselho Federal de Contabilidade (2006 a 2009).
Segundo ela, grande parte das conquistas das mulheres na área contábil se deve ao legado do projeto “Mulher Contabilista”, criado há quase 30 anos, que impulsionou a participação feminina em espaços, até então, predominantemente masculinos. “Somos incansáveis por natureza. Desde o início da emancipação feminina, soubemos, inteligentemente, o momento certo de combinar os afazeres domésticos com a nossa própria instrução. Se hoje temos motivos bastantes para comemorar, é porque fomos capazes de seguir em frente, combinando sensibilidade, competência e boa vontade”, ressalta a presidente da Abracicon.
No entanto, Maria Clara acredita que o caminho ainda é longo para a igualdade entre homens e mulheres. Porém, lembra que o empoderamento feminino está a todo vapor. “Estamos, cada vez mais, determinadas a não nos deixar abater diante das situações adversas, conscientes de que, com união, é possível concretizar nossos objetivos. Nossa meta é nos fortalecermos coletivamente, multiplicarmos nossas competências, valorizarmos os nossos serviços e aumentarmos a nossa credibilidade perante a sociedade, como construtoras de uma pátria mais justa e igualitária. Nós não somente queremos ocupar o merecido espaço sociopolítico brasileiro, mas exercer em plenitude a nossa cidadania enquanto mães, profissionais competentes, esposas, cidadãs, mulheres”, conclui.
Mais capacitadas e em busca do equilíbrio
Entre os principais desafios na classe contábil, a vice-presidente de Desenvolvimento Profissional do CFC, Lucélia Lecheta, afirma que está na conciliação entre a contabilidade e os avanços tecnológicos. E, para isso, a unidade entre homens e mulheres é fundamental. “A busca pelo conhecimento não pode mais ficar em segundo plano, o que nos exige planejamento, gestão de tempo, de pessoas, de recursos. E, por isso, precisamos sempre do equilíbrio. Tanto em cima do salto como na sua vida pessoal e profissional. Precisamos trabalhar em parceria com os homens, com outras mulheres. Não há mais como ser diferente disso”, garante.
A conselheira Lucélia Lecheta está na profissão há 32 anos. Foi a primeira mulher a presidir o Conselho Regional de Contabilidade do Paraná, após quase 70 anos de liderança masculina. Para ela, a qualificação é primordial para o crescimento profissional em qualquer área e a dedicação das mulheres é expressiva. Segundo a vice-presidente, elas estão chegando ao mercado de trabalho mais capacitadas e cheias de entusiasmo. Lucélia Lecheta também diz que tem muito orgulho em fazer parte da história do empoderamento feminino na classe contábil.
“Tudo o que tenho financeiramente conquistei com a contabilidade e isso é muito gratificante. Além disso, minhas maiores realizações também foram por meio da Contabilidade. Ser a primeira mulher a presidir o CRCPR depois de quase 70 anos de história é algo do qual me orgulha muito. Eu tenho dito sempre que através do meu trabalho nas entidades de classe, inclusive agora no CFC, busco cumprir um objetivo muito nobre: devolver a contabilidade tudo o que ela me deu. Por isso procuro sempre fazer o meu melhor”.
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