Por Sheylla Alves
Comunicação CFC
A 11ª Conferência de Contabilidade e Responsabilidade para o Crescimento Econômico Regional (CReCER) iniciou as atividades na manhã desta terça-feira (9/5), em São Paulo, com o tema “Relatórios de sustentabilidade e alavancagem da tecnologia para o desenvolvimento econômico regional”. O primeiro dia de atividades prevê 4 plenárias, combinadas com sessões temáticas que visam trabalhar a questão da sustentabilidade em âmbito global e os desafios da implementação de ações de governança ambiental, social e corporativa. Por meio de discussões teóricas e aplicações práticas, o CReCER objetiva promover o diálogo sobre como as informações de alta qualidade são úteis para a tomada de decisões que podem contribuir para o aumento financeiro do desenvolvimento sustentável e como a tecnologia pode auxiliar nesse processo e nos principais sistemas governamentais.
Com o tema Desenvolvimento Sustentável na América Latina e no Caribe – desafios e oportunidades, a plenária 1 discutiu como a desigualdade social influencia os desafios e as oportunidades do setor público e privado, principalmente na implementação de práticas sustentáveis. Para o chefe de divisão, gestão financeira de operações e serviços de compras do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Javier Dávila, a desigualdade social e a pobreza, a desintegração econômica e a degradação ambiental são sintomas ainda latentes e estruturais na América Latina e no Caribe.
“São regiões muito ricas em recursos naturais que nos dão inúmeras oportunidades em relação à sustentabilidade, à preservação dos ecossistemas e à promoção de práticas que podem impulsionar o crescimento econômico. E, nesta importante tarefa, o setor público e o setor privado têm um papel fundamental para impulsionar os nossos países em matéria de sustentabilidade. O setor privado pode e deve investir em tecnologia sustentável para promover práticas comerciais responsáveis, assim como o setor público ajuda a criar políticas de apoio e promoção sustentável. As ações de práticas ambientais por parte desses setores podem ajudar a América Latina e o Caribe a alcançarem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e, principalmente, a criarem um futuro melhor”, destacou Javier, ao falar sobre o que se trata o primeiro painel e a discussão ali desenvolvida.
Em seguida, o representante do Banco Interamericano de Desenvolvimento no Brasil, Morgan Doyle, falou sobre a importância de se ter informações de qualidade, principalmente no que diz respeito às demandas essenciais dos serviços públicos. “Não existe transparência, accountabillity e confiança sem a informação financeira de qualidade. Além disso, um controle efetivo da melhor questão dos serviços públicos vem com os esforços de desenvolvimento sustentável e as informações financeiras, que são ferramentas centrais e importantes para subsidiar as políticas públicas, sem as quais não teríamos como evoluir no caminho, e para que possamos atingir os demais patamares da inclusão social, da diversidade, de proteção ao meio ambiente, de freio da mudança climática, governança, integração econômica, ou seja, tudo o que temos como essencial”, enfatizou Doyle.
Na ocasião, o representante ainda citou a estrutura que vem sendo desenvolvida aqui no Brasil, mas que influencia diretamente os projetos e estudos sobre desenvolvimento sustentável em toda a região da América Latina e do Caribe. Em continuidade, o diretor global de Prática Global de Governança do Banco Mundial, Arturo Herrera, realçou a necessidade de frisar, cada dia mais, que a América Latina não é uma região pobre, mas, sim, uma região com países em desenvolvimento.
“A América Latina não é pobre, mas, sim, uma região com muitos pobres, pois ainda enfrenta muita desigualdade em comparação com outras regiões do mundo – como a Turquia, que ainda é menos desigual que muitos países da América Latina, como o Uruguai”, destacou. Segundo o especialista, a desigualdade e a pobreza estão unidas em nossa região e são dados extremamente importantes de se contabilizar, para definir como enfrentá-los. “É um dilema que estamos nos perguntando e que requer um coquetel de políticas públicas muito variadas. Uma delas tem a ver com a inversão. Há alguns anos, uns colegas realizaram um diagnóstico do motivo pelo qual o Brasil ainda não tinha crescido o suficiente e perceberam que o Brasil é o penúltimo país em técnicas de inversão na América Latina. E esse problema deve ocorrer pois, em alguns lugares, não há o ingresso suficiente nesse coquetel completo de como combater a pobreza, a desigualdade e ter uma melhor gestão dos recursos; além disso, não há espaço para combater as mudanças climáticas e uma série de crises mais complexas”, detalhou, em sua fala, o diretor.
Para ele, o panorama é muito mais complexo do que se imagina. Já com a palavra, o presidente do Tribunal de Contas da União do Brasil, ministro Bruno Dantas, apresentou uma visão sobre a atuação das instituições de controle da América Latina. “Cabe falar da fiscalização realizada pelas instituições de controle da maioria dos países, em que elas executam, de maneira incontestável, ações voltadas a desenvolver esse papel de manter os parâmetros da governança e que têm como missão a fiscalização e valorização das políticas públicas e execução pelos respectivos governos”, explicou. O ministro ainda destacou que combater as desigualdades sociais é combater as emergências climáticas.
“A agenda de desenvolvimento sustentável passa por temas importantes, que exigem políticas públicas eficientes e eficazes, como as relacionadas às mudanças climáticas, ao combate às desigualdades sociais e, também, ao combate à ausência de serviços básicos, como a água potável e o saneamento. A pandemia e as guerras estão prejudicando a transição para uma economia que seja mais verde e, somadas a este contexto, emergências climáticas que são provocadas causam impacto na vida de milhões de pessoas e contribuem ainda mais para a desigualdade e pobreza”, disse Bruno Dantas. Oportunamente, ele destacou que o principal papel das instituições fiscalizadoras consiste em auxiliar no combate às desigualdades e no crescimento do desenvolvimento sustentável.
O CReCER vai até o dia 11 de maio e é organizado em conjunto pelo Banco Mundial, pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), pela Federação Internacional dos Contadores (Ifac, na sigla em inglês), pelo Comitê Global de Políticas Públicas (GPPC, na sigla em inglês) e pelo fórum global de representantes das seis maiores redes internacionais de contabilidade. A edição deste ano do CReCER tem como anfitriões e parceiros locais o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), o Instituto de Auditoria Independente do Brasil (Ibracon) e o Tribunal de Contas da União (TCU).
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