Por Lorena Molter
Comunicação CFC/Apex
O mês do empresário contábil é celebrado de uma forma diferente em 2021. Isso porque a pandemia do novo coronavírus deixou ainda mais evidente a essencialidade dos contadores. Ao longo de 2020, as empresas de contabilidade atuaram, de forma incansável, estudando e aplicando as normas emitidas pelo Governo federal, voltadas para conter os impactos da Covid-19, e contribuíram para a manutenção da economia brasileira. Essas empresas foram o apoio de outras empresas, de diferentes áreas e portes, prestando assessoramento e construindo planejamentos a curto, médio e longo prazo.
A vice-presidente de Registro do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e empresária contábil, Lucélia Lecheta, fala das principais frentes de trabalho dos contadores durante a pandemia. “O ano de 2020 foi bastante atípico, gerando, para os escritórios de contabilidade, uma demanda muito maior. Sabemos que a principal questão acabou sendo na área trabalhista. A maior parte das empresas contábeis é que fazem as folhas de pagamento para as empresas de pequeno e de médio porte. Então, nessa área, realizamos um assessoramento muito grande para que pudesse haver um planejamento dos afastamentos dos funcionários quando o governo permitiu a suspensão e a redução de jornada, para que a economia continuasse girando e pudéssemos assessorar os nossos clientes da melhor forma possível nessa área. Outra questão bastante importante no ano de 2020 foi nos assessoramentos na busca por linhas de crédito mais baratas para fazer frente às principais despesas que as empresas tinham, muitas delas, em algum momento, sem qualquer faturamento”, explica.
A conselheira do CFC e empresária contábil, Angela Dantas, recorda que os contadores tiveram um papel importante ao analisar as publicações do governo e aplicá-las de acordo com a realidade de cada negócio. “Para tentar minimizar os impactos econômicos e sociais resultantes da atual pandemia, o governo publicou diversas medidas provisórias e leis nas quais o profissional contábil foi o elo entre o governo e o empresário. Por meio da realização de um estudo individualizado das necessidades de cada empresa, o contador, munido de informações precisas e céleres, desenvolveu um papel fundamental para a estabilização da saúde financeira das empresas. Tornou-se cada vez mais evidente que somos um dos principais consultores para seu negócio e não apenas um profissional para apurar os impostos e emitir DARFs. O nosso assessoramento ajuda de forma contínua a melhoria do ambiente de negócios em nosso país”, ressalta.
A limitação na circulação de pessoas e no contato social, essenciais para o controle da pandemia, assim como o fechamento dos serviços considerados não essenciais trouxe um cenário de incerteza e de insegurança para os empresários. Ao mesmo tempo em que o isolamento era fundamental, existia o medo de as empresas não sobreviverem.
O empresário contábil e coordenador da Comissão de Contabilidade Eleitoral do CFC, Haroldo Santos Filho, explica que os contadores precisaram ser ágeis e dar orientações específicas para seus clientes. “E, nessa hora, de horizontes limitados, o apoio institucional e de assessoramento técnico do profissional da contabilidade aos clientes foi fundamental. O objetivo era somente manter as empresas vivas. E para isso ocorrer, mais uma vez, o contador precisou ser polivalente. Desde sugerir novas opões de prorrogações de recolhimentos tributários, de contratações de pessoal até sugestão de renegociação de dívidas e de obrigações. Tudo isso foi alvo de orientação aos empresários. E posso assegurar: aqueles que seguiram à risca essas orientações tiveram maiores chances de permanecer vivos para a grande retomada que todos esperamos, com o advento da vacina. A torcida é grande!”, pontua.
Mesmo com o distanciamento social e o aumento no número de casos de Covid-19 no Brasil e no mundo, os empresários contábeis trabalharam sem interrupções. A distância foi superada pelo uso dos meios digitais, fundamentais para o acompanhamento dos clientes.
O vice-presidente Administrativo do CFC e empresário contábil, Sergio Faraco, fala sobre esse assessoramento constante e enumera algumas das orientações transmitidas aos clientes. “O nosso principal apoio foi estar mais perto do cliente, participando ativamente junto ao seu negócio na gestão da empresa, orientando com foco no capital de giro; no controle do estoque – mantendo o estoque compatível com as vendas; no fluxo de caixa – controlando tudo o que entra e sai (receitas x despesas), parando com investimento (imobilizado). Caso o cliente tivesse dívidas, orientamos pegar um financiamento, aderir ao Pronampe ou até vender bens (carro, imóveis, móveis, etc.) ou arranjar um sócio capitalista. Outra grande preocupação foi com o setor de pessoal, aplicando e orientando os clientes nas medidas provisórias emitidas pelo governo que muito ajudaram na economia das empresas”, esclareceu.
Um socorro para os empreendedores e para a economia brasileira
“Não tenho a menor dúvida que o profissional mais importante para a vida do empreendedor, principalmente de micro, pequeno e médio porte, foi o contador”, afirma Haroldo Santos Filho. A pandemia impactou a economia de todo o planeta. Nesse cenário, os pequenos negócios foram aqueles que mais sofreram. No Brasil, essa realidade tornou-se uma grande ameaça já que os pequenos são a maioria, sendo fundamentais para a vida econômica do país.
Santos Filho contextualiza o cenário enfrentado por esses negócios. “Empreender em qualquer lugar do mundo inteiro não é tarefa fácil. No Brasil, essa dificuldade consegue ser ainda maior em função de ser um país com cultura cartorial e modelos tributários complexos, além de ter seus processos caracterizados por extrema burocracia. Agora, somado a tudo isso, imagine o que ocorreu com esse empresário durante um processo pandêmico que abalou toda a humanidade? O cliente sumiu da loja, do restaurante. O cliente parou de comprar. O fornecedor parou de vender. Considerando minha própria experiência, posso dizer que ‘bateu’ o desespero, o desânimo”, diz.
Diante da crise econômica, os contadores trabalharam lado a lado com o governo e focaram em manter as empresas brasileiras “vivas”. O contador Sergio Faraco informa que, em função desse apoio, o trabalho do contador foi considerado essencial no estado em que está sediada a sua empresa. “Graças às orientações do empresário contábil, muitas empresas não fecharam e tiveram forças para sobreviver. Aqui em Santa Catarina, desde o início, o governo estadual considerou o nosso trabalho essencial, pois ele sabia dos reflexos dos nossos serviços na economia brasileira. A economia no Brasil sobrevive às custas dos empregados que fazem a economia girar e circular os bens, os serviços e o dinheiro”, aponta.
Santos Filho compartilha da opinião de Faraco a respeito da necessidade de trabalhar em prol da sobrevivência das empresas. “O grande objetivo da orientação contábil era o de aumentar o número de empresas brasileiras vivas durante a pandemia. Ora, se é mantida viva a célula que alimenta a economia do país, você consegue imaginar uma ajuda maior do que esta para a nossa economia? Empresas vivas, ainda que fortemente abaladas, mantêm empregados e, com isso, mantêm-se, minimamente, as molas propulsoras da economia, que cuidam dos princípios balizadores da oferta e da procura”, salienta.
Como se preparar para 2021?
A contadora Angela Dantas dá ênfase em dois pontos: cautela e atenção com o cenário econômico. “A economia mundial e a brasileira vêm sendo fortemente impactadas com a pandemia. O ano de 2021 é um ano para se ter cautela e tentar recuperar números e rentabilidade a patamares anteriores à crise. Os contadores, por deterem informações importantes de todo o ciclo operacional e econômico das empresas, precisam estar cada vez mais atentos a esses dados e assessorar, de forma precisa, o empresariado na busca do melhor cenário do seu negócio”, orienta.
A contadora Lucélia Lecheta está alinhada com Dantas e também afirma ser necessário manter uma postura cuidadosa. “A preocupação com 2021, que temos alertado os clientes, e isso é um papel do contador, é para se ter ‘pé no chão’ e aguardar o que está por vir. Todo mundo está torcendo pela vacina, para que não sejam necessários grandes fechamentos de setores econômicos, que já sofreram bastante no ano anterior e, nesse caso, podemos citar os donos de restaurantes e de bares, os hotéis e a área do turismo, que foram bastante afetados negativamente. A esperança é que não sejam necessários fechamentos nessas áreas para que não cause a esses negócios um prejuízo maior”.
Além da prudência, Santos Filho aconselha que seja dada atenção ao caixa das empresas. “A principal orientação às empresas que têm em suas mãos a responsabilidade de reconstruir a retomada da economia do país pós-pandemia é: cuide de seu caixa, pois o ‘caixa é o rei’. Para isso, reveja seus custos. Adeque sua rotina empresarial e os processos de sua empresa a esta nova era de uso pesado da tecnologia como forma de redução de custos e aumento da produtividade. Não é hora de grandes extravagâncias, mas também não é hora de ficar dentro da caixa esperando algo acontecer. Só vai acontecer aquilo que você fizer acontecer. Essa deve ser a mentalidade em 2021. Devagar e sempre e, assim, venceremos!”, destaca.
Faraco traz algumas dicas práticas para serem aplicadas no dia a dia da gestão dos negócios. “Mapear as contas que são a sobrevivência das empresas (fornecedores, colaboradores, luz, água, internet, telefone, etc). O importante é que o empresário contábil oriente seus clientes no sentido de renegociar com fornecedores pedindo descontos ou postergando o pagamento ou os parcelamentos. Também vale tentar antecipar recebíveis, dando força no seu caixa. Outra orientação que damos é cortar despesas, reduzindo equipe, cortando benefícios, bônus, plano de saúde, etc. O planejamento tributário é fundamental, diminuindo tributos no próximo ano.”
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