Por Deividi Lira/ Agência Apex
Comunicação CFC
Quando pensamos em transmissão de ensinamentos para os filhos, a educação financeira quase nunca entra nessa composição. A questão financeira é pouco explorada na criação dos descendentes e, às vezes, é tida como assunto inapropriado para ser tratado com crianças e adolescentes. Entretanto, o que poucos refletem é que, quando bem introduzida na criação dos filhos, ela pode ser fonte de aprendizado de valores e se tornar um legado para a vida.
Mas quando iniciar esse ensinamento e como fazê-lo? A boa notícia é que nunca é tarde para começar a ensinar os filhos sobre o assunto. De acordo com o professor Wenner Gláucio Lopes Lucena, doutor e mestre em Ciências Contábeis pelo Programa Multi-Institucional e Inter-Regional de Pós-Graduação em Ciências Contábeis – UnB/UFPB/UFRN e especialista em Educação Financeira, o tema deve ser, cuidadosamente, inserido na vida das crianças, a partir da geração de estímulos, para que os filhos possam ter interesse no assunto. “Nada pode ser forçado”, alerta.
“Na minha opinião, falar que existe uma idade certa é besteira. Tenho visto estudos com crianças que despertaram bem mais tarde e, hoje, conseguem entender melhor as questões em torno da alfabetização financeira. Eu costumo estabelecer como marco o momento que existe a necessidade de contabilizar números e, pelo que eu tenho visto, geralmente, é no primeiro ano do ensino fundamental I”.
Ainda de acordo com o professor Wenner, os ensinamentos de educação financeira partem das necessidades cotidianas. Incluem-se nesse rol práticas simples, como, por exemplo, apagar as luzes da casa, não demorar muito no banho, organizar uma lista de compras para ir ao supermercado, dar responsabilidade com dinheiro ao oferecer a mesada.
“Tudo começa a partir de algumas perguntas que serão feitas pelos nossos filhos. Eu sempre uso o passeio no shopping com os meus filhos como ensinamento, uma viagem que procuro envolvê-los e apresentar os valores dos gastos. Tem muitas possibilidades que você pode aproveitar para alfabetizar financeiramente seus filhos, mas nunca se esqueça de lidar com o tema de uma forma leve e suave, nunca de uma maneira forçosa.”
Formação de valor
Outro ponto destacado pelo professor Wenner é a importância de ser ensinado para que o aprendizado se desenvolva para a construção de valor. “Uma das formas que procuro ensinar e falar, quando tenho oportunidade, é que ‘dinheiro não dá em árvore’. Em muitos casos, precisamos economizar e viver sempre um degrau abaixo. É uma forma de humildade e de pensar no futuro. Você pode consumir tudo agora ou sempre guardar um pouco.”
Nesse ponto, Wenner vai além e destaca a necessidade de ensinarmos que a sustentabilidade financeira também se reverte em sustentabilidade ambiental. “Nossa função é preparar as novas gerações e torná-las pessoas menos consumistas, adquirindo o que chamamos de alfabetização financeira por meio de competências, habilidades e atitudes com relação ao dinheiro.”
Legado para a vida
A falta de educação financeira gera impactos diretos na economia nacional. Uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) indicou que o nível de endividamento das famílias brasileiras, no primeiro trimestre deste ano, foi de 78,1%. Os dados fazem parte da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada em 1º de agosto de 2024.
Estudiosos apontam que um dos principais motivos para o endividamento das pessoas consiste na falta de controle de gastos em relação à receita familiar. Esse despreparo está relacionado à falta de formação no assunto, a dita alfabetização financeira.
Para o professor, essa é uma das contribuições da educação financeira: indivíduos mais conscientes e menos alienados sobre a relação com o dinheiro. “Quando preparamos nossos filhos, contribuímos para mudar o pensamento de toda uma geração e, assim, fazemos com que cada vez mais as pessoas saibam da importância em lidar bem com dinheiro.”
Por isso, a importância de tratar do assunto – não delegar o tema à escola ou a qualquer outro círculo social da vida dos filhos – é responsabilidade do núcleo primário do indivíduo: a família. Transmitir esses ensinamentos aos filhos é também um meio de formar cidadãos responsáveis e aptos a encararem o futuro de forma mais preparada.
“No meu tempo, meus pais não falavam de dinheiro comigo, diziam que isso não era assunto para criança. Tive que aprender e, em muitos casos, aprendemos da pior forma. Mas, com meus filhos, eu procurei quebrar esse tabu e sempre busco inseri-los nas discussões do orçamento financeiro da minha casa. Hoje posso falar que tenho filhos educados financeiramente, que, com certeza, por onde passam, levam os ensinamentos. Essa construção passa justamente por isso: falar de educação financeira.”
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