Por Lorena Molter
Comunicação CFC
Um dos fóruns do 21º Congresso Brasileiro de Contabilidade (CBC) tratou de sustentabilidade e desenvolvimento. A atividade aconteceu no dia 11 de setembro, no auditório principal do evento, e teve como norte a pergunta: As empresas estão preparadas para reportar sobre sua sustentabilidade ASG?
A abordagem do assunto foi dividida em duas sessões. A primeira teve como tema “Evolução dos Relatórios Contábeis – Onde a Contabilidade e a Sustentabilidade se Comunicam”. Essa etapa do fórum foi mediada pela vice-presidente Técnica do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Ana Tércia Lopes Rodrigues. A contadora destacou que, quando a entidade decidiu adotar as normas do International Sustainability Standards Board (ISSB), passou também por um processo de normatização. A profissional anunciou que a entidade está para aprovar e publicar as primeiras normas brasileiras de divulgação de sustentabilidade. Os documentos estiveram em audiências pública em 2024.
Ana Tércia ainda ressaltou que a classe contábil é protagonista neste processo e destacou a Resolução CFC 1.710, 2023, que estabelece que “a elaboração e a asseguração dos Relatórios de Informações de Sustentabilidade são de responsabilidade técnica dos profissionais da contabilidade”.
O professor doutor e coordenador Técnico do Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade (CBPS), Eduardo Flores, foi um dos painelistas dessa primeira seção. O acadêmico ressaltou que, à medida que surgem novas necessidades de informações, como a estruturação de dados, a Contabilidade é referência.
Seguindo está linha mestra, Flores falou sobre a responsabilidade da Contabilidade ao longo da história, todos vinculados a realidades econômicas e sociais. “A história da contabilidade tem sido acomodar necessidades e prioridades sociais, criando tecnologias para lidar com elas”, explicando que, conforme necessidade econômicas e sociais surgiam ao longo dos séculos, os profissionais regiam e desenvolviam respostas para as demandas da sociedade. O professor resumiu a nova realidade vinculada à sustentabilidade como uma responsabilidade social e uma oportunidade de negócios para a classe.
Dando continuidade, o gerente de Normas Contábeis (GNC) da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Osvaldo Zanetti Favero Junior, que as informações produzidas devem ser úteis para a tomada de decisão dos usuários. O contador falou sobre o objetivo, as etapas de adoção e o conteúdo da pioneira Resolução CVM 193, de 2024. O documento trata da elaboração e divulgação do relatório de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade, tendo como base o emitido pelo ISSB.
O painelista esclareceu que a adoção ainda não é obrigatória, mas que as empresas podem começar seguir a resolução. Contudo, Favero alerta que “quem for adotar para 2024 deve, necessariamente, avisar ao mercado que irá adotar as ISSBs”. Em sua exposição dando falou sobre os impactos positivos da incorporação desse normativo para a profissão.
O próximo painelista foi o gerente sênior de Controladoria em Lojas Renner, Alexsandro Tavares, que falou sobre a decisão da Renner de fornecer ao mercado divulgações de sustentabilidade. O profissional deixou claro que, a partir desse pioneirismo, não sabe como tudo irá se desenrolar, mas a empresa enxerga essa decisão como algo essencial. Tavares disse que a sustentabilidade é um pilar de longa data na companhia e que a empresa estabeleceu comitê de sustentabilidade em 2008. “Temos uma trajetória consolidade em sustentabilidade. A Renner está nos principais índices que medem a sustentabilidade”, contou. Durante a exposição também explicou que a sustentabilidade foi incorporada nos valores da Renner, de modo que pudesse ser representada em todos os setores e expandisse para fornecedores.
O membro da Plataforma de Ação Anticorrupção do Pacto Global da ONU e project manager do Grupo de Trabalho de Integridade e Compliance do B20, Reynaldo Goto, fechou a sessão. O painelista contextualizou como a temática da sustentabilidade emergiu nos últimos anos e como o Brasil tem protagonizado esse assunto.
Goto falou sobre alguns desafios relacionados à implantação dos relatórios nas empresas. Entre alguns dos problemas está o fato de algumas empresas não terem integração entre as áreas, o que pode refletir na confecção dos relatórios. Outro ponto abordado foi a questão de se dizer que a implantação dessas divulgações será difícil para as pequenas empresas. Sobre o tema, o painelista ressalta que fazer esse balanço em uma grande empresa é muito mais complexo. Contudo, lembra que as pequenas entram nesse computo, já que há o aspecto da cadeia de valor. A falta de mão de obra de pessoas que saibam fazer esse trabalho, principalmente o mapeamento e acompanhamento dos elementos que serão auditados, é mais uma dificuldade a ser superada. O painelista afirmou que é natural que haja um impacto nas demonstrações financeiras, por isso, “quanto mais rápido se preparar para essa mudança, será melhor”.
Informações de sustentabilidade das pequenas e médias empresas e a responsabilidade dos contadores
A segunda sessão do fórum foi mediada pelo coordenador Operacional do CBPS, Zulmir Breda. O gerente executivo de Sustentabilidade na Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobras), Sandro Damásio, afirmou que é preciso fazer uma boa gestão de ESG para o desenvolvimento da empresa. O painelista chamou a atenção do público para o fato de, apesar das empresas declararem a importância do tema, apenas 70% fazem relatórios de sustentabilidade. Damásio ressalta que um número menor utiliza esses dados para a tomada de decisão.
O profissional ainda destacou: "Vocês são os profissionais que deverão fortalecer a integração entre as diferentes áreas da empresa". A integração entre contabilidade, estratégias, controles internos e gestão de riscos serão muito importante, segundo Damásio, que também lembrou que as empresas que estão na cadeia de suprimentos deverão estar envolvidas e engajadas nesse processo.
O chefe da contabilidade e da controladoria do Banco BV, Rodrigo Morais, falou sobre a realidade e o papel do sistema financeiro no contexto da sustentabilidade. O painelista disse que os bancos precisam trabalhar a governança de modo a avaliar a seção de crédito a partir dos valores ESG. Há, inclusive, de acordo com Morais, a facilitação de créditos relacionadas à adoção de práticas sustentabilidade. A análise de riscos também foi revista e modificada. O banco pode, até mesmo, pedir que empresas entreguem relatórios, assinados por contadores, que atestem as práticas sustentáveis do seu cliente.
A professora universitária e membro do GT Educacional CBPS, Fernanda Claudino, falou sobre a conexão do profissional da contabilidade com a sustentabilidade, com enfoque no suporte da cadeia de fornecedores. A acadêmica deu o exemplo da União Europeia em que as empresas grandes devem mapear a sua cadeia de valor de modo que localizem e indiquem as informações de direitos humanos e ambientais.
Damásio alertou sobre a “importância do profissional da contabilidade nas pequenas [empresas] porque ele faz parte de algo muito maior”. Segundo a painelista, os profissionais da contabilidade fazem parte de um ecossistema e serão os responsáveis por essas informações que serão prestadas. Ela orienta que esses dados deverão ser claros para chegar ao ponto da asseguração.
Para finalizar o fórum, o presidente da Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas (Fenacon), Daniel Coêlho, apresentou a visão da entidade e as suas percepções como empresário contábil sobre o assunto. “É um tema desafiador para todos os profissionais da contabilidade”. O contador falou sobre os desafios de se conscientizar a classe de que essa temática não é algo do futuro nem assunto apenas de grandes empresas. “Precisamos aproveitar a nossa aproximação com as micro e pequenas empresas. Elas são 98% do Brasil”, disse.
Coêlho ainda falou que, embora a obrigatoriedade seja apenas para as grandes empresas, os pequenos negócios que trabalham com essas maiores deverão se adequar. O presidente da Fenacon disse que a classe pode levar essas mentalidades para esses negócios menores e ajudá-los a crescer e a ajudar na existência da vida do planeta.
O CBC
O maior evento contábil da América Latina acontece a cada quatro anos e tem a finalidade de capacitar a classe contábil, promover o debate de temas atuais e estratégicos para a Contabilidade e proporcionar um ambiente de troca de experiências.
O 21° CBC contará com 48 paineis, 9 palestras, 22 fóruns e a apresentação de 136 trabalhos, entre produções técnicas e científicas. A programação inclui ainda Exposição Literária, Feira de Negócios e agenda cultural.
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