Por Lorena Molter
Comunicação CFC
As normas de sustentabilidade foram a temática do segundo painel do XXI Seminário Internacional FACPCS – Nomas Internacionais de Contabilidade e de Sustentabilidade. O evento aconteceu nesta quarta-feira (30), na modalidade híbrida, e reuniu palestrantes do Brasil e do exterior.
A exposição foi mediada pela vice-coordenadora de Relações Internacionais do Comitê de Pronunciamentos de Sustentabilidade (CBPS), Vânia Borgerth. O manager of Ibero-America Relations – IFRS Foundation/ISSB, Arturo Rodriguez; o gerente sênior de Contabilidade das Lojas Renner, Alexsandro de Lima Tavares; o coordenador Técnico do CBPS e membro do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), Eduardo Flores; e a chefe de Análise ESG e Temáticos do Santander e Membro da Comissão de Valuation da Apimec Brasil, Maria Paula Cantusio, foram os painelistas que abordaram o tema.
Borgerth iniciou a sua fala destacando o momento histórico da Contabilidade, a partir da publicação das Normas Brasileiras de Contabilidade Técnicas para Divulgação de Informações sobre Sustentabilidade (NBC TDS 01 e 02). Os documentos foram disponibilizados no Diário Oficial da União do dia 29 de outubro. A moderadora ressaltou os ganhos que os normativos trazem e os desafios a serem superados. “Contabilidade, certamente, fala muito à alma contábil de todos nós – a maioria aqui na plateia. Nós vibramos com a Contabilidade, adoramos um ‘débito e crédito’, mas a maior sede no dia de hoje é ouvir falar sobre como vamos combinar os nossos informes, as questões financeiras, junto com os aspectos de sustentabilidade, dando assim uma visão muito mais abrangente da verdadeira situação das nossas empresas”, contextualizou.
A profissional ainda ressaltou a essencialidade de essas normas serem implementadas com sucesso para, segundo a contadora, “educar preparadores, investidores, sociedade, reguladores e, até mesmo, os emissores de normas”.
Dando continuidade, Arturo Rodriguez apresentou uma visão geral do que a IFRS Foundation tem feito para ajudar reguladores e empresas a entenderem as normas IFRS S1 e S2 melhor. Esse projeto é voltado não apenas para o Brasil, como também para o mundo inteiro. O profissional falou que, desde a publicação desses padrões, a entidade possui quatro estratégias para as empresas entenderem mais esses documentos, entre os quais a proporcionalidade, orientação e materiais educativos; as transições no primeiro período de reportes; o guia de adoção jurisdicional; e o programa de desenvolvimento e de capacidades.
Sobre a proporcionalidade disse que as IFRS S1 e S2 usam conceitos e terminologias semelhantes, que já são adotados há um bom tempo nos padrões de contabilidade. “O melhor exemplo dessa ideia de usar uma terminologia semelhante é o conceito de materialidade”, exemplificou. Rodriguez também destacou que o uso de termos semelhantes é uma boa notícia para a profissão. Isso porque, segundo o painelista, “o desafio é usar o conhecimento que vocês já têm e aplicá-lo em um contexto diferente”. E completou: “Na profissão de contabilidade, termos como materialidade já são usados, há muito tempo, no contexto de informação financeira e agora o desafio é aplicar esse mesmo conceito do contexto de sustentabilidade. Então, não é aprender uma coisa nova é aplicar algo que vocês já sabem em um contexto novo”.
O representante da IFRS Foundation ainda apresentou outros materiais desenvolvidos para auxiliar no entendimento e aplicação dos normativos de sustentabilidade. Entre esses conteúdos, estão “IFRS S2 e Recomendações TCFD”; “IFRS S2 e Padrões GRI”; IFRS S1 e Padrões SASB”; Normas ISSB e Relato Integrado”; “Natureza e Aspectos Sociais em IFRS S2”; e “Interoperabilidade entre ISSB e ESRS”. O painelista também falou sobre o ISSB Knowledge Hub, um espaço com vários materiais e recursos gratuitos para consulta.
Sobre a questão da transição, destacou que no primeiro ano não há algumas exigências, apenas a partir do segundo. “Há algumas exigências que são mais difíceis de cumprir. Entendemos isso como ISSB. Então, demos um ano de carência para as empresas reportarem essas exigências específicas”, pontuou. Já na parte de Guia de Adoção informou que a entidade está trabalhando com reguladores ao redor do mundo a questão da adoção das IFRS S1 e S2. O painelista ainda citou o pioneirismo do Brasil nesse processo. Outro espaço para entender mais as normas apresentado por Rodriguez é o Transition Implementation Group (TIG). O grupo se reúne regularmente para discutir os desafios na implementação das normas S1 e S2. O espaço é aberto e os debates estão disponíveis para os interessados.
Em seguida, Bortgeth ainda lembrou que, em toda essa caminhada, o pilar da ética é fundamental nas divulgações de sustentabilidade. A moderadora chamou atenção também para o fato de que os anos de 2024 e 2025 são um período de adoção voluntária dessas normas, em que não haverá qualquer tipo de sanção se houver algum problema com a atividade de reporte. “Seria uma grande oportunidade de aprendizado para você ouvir o mercado; começar o diálogo com o seu auditor para [ele] ir se preparando para a auditoria ou asseguração razoável; para testar os controles internos; e inclusive testar o próprio mercado: ouvir dos seus stakeholders se aquilo que você está divulgando é aquilo que eles, efetivamente, têm interesse de saber”, orientou.
No Brasil, duas empresas decidiram fazer a adoção voluntária antecipada das normas: a Renner e a Vale. Alexsandro de Lima Tavares da Renner explicou o histórico de envolvimento da empresa com a pauta da sustentabilidade. O painelista contou que há mais de dez anos o negócio possui um Comitê de Sustentabilidade. “Há uma trajetória sendo construída. Isso, consequentemente, incorporou-se aos nossos valores. E, quando falamos isso, trazemos à tona outro pilar, que é a estratégia. Se está no meu valor, isso tem que estar na minha estratégia”, argumentou. Tavares, ainda, ressaltou a importância da preparação, busca de conhecimentos e participação ativa na discussão de novas normas. “Não tenham receio de começar. O que nos motiva, independentemente de adotar antecipado ou não, é que nós precisamos começar o projeto”, afirmou.
O profissional ainda destacou que os ganhos nesse processo são mais abrangentes. “É um assunto de sociedade. É um assunto em que podemos contribuir com o protagonismo da nossa área como contadores. Nós não vamos entregar algo só para os investidores. Nós vamos trazer uma contrapartida para a sociedade como um todo”, declarou.
Tavares falou sobre a importância de se conhecer profundamente a empresa nesse processo de implementação das normas de sustentabilidade. Sobre o assunto, Borgerth contou que ela, assim como outros palestrantes do tema, costuma ser questionada sobre se possui um modelo para as essas divulgações. A contadora enfatizou que esses reportes não são um “copia e cola” do relatório de outras empresas. “O reporte é a história da empresa. Para reportar, ela tem que olhar para dentro e não para fora. Se ela não conhece a si própria, não consegue contar a sua história”, frisou.
Dando continuidade, Eduardo Flores celebrou o ano produtivo do CBPS, justamente com a concretização desses documentos. O painelista compartilhou um histórico da criação, implementação e edição de princípios, conceitos e normas contábeis e os reflexos disso na profissão e na economia. “Estamos vivendo um momento da criação de princípios contábeis de divulgação de sustentabilidade geralmente aceitos. É uma ruptura geracional”, pontuou.
O membro do CBPS ainda compartilhou que uma série de empresas já está trabalhando o tema, embora ainda não tenha divulgado. “Nas estatísticas das empresas brasileiras, que tem discutido o S1 e S2, o CBPS 1 e CBPS 2, muita gente está fazendo esforços em casa, mas não anunciou publicamente o que vai fazer nesse período de transição”, compartilhou. Flores defendeu que, pela lógica, o ideal é as empresas aproveitarem o biênio 2024 e 2025, que é voluntário, para obter conhecimento sobre esses relatórios e fazê-los. “O momento de se ter uma curva de aprendizado na implementação é agora. Não é possível que as empresas vão jogar fora [a oportunidade] sabendo que elas estarão obrigadas [à entrega]. Quem está apostando que em 2027, a publicação referente a 2026 não vai acontecer, eu, se estivesse na condição de diretor executivo de uma empresa, não faria isso”, enfatizou. Flores ainda explicou, de forma sucinta, a CBPS 01 (NBC TDS 01) e a CBPS 02 (NBC TDS 02).
O painel foi finalizado com a apresentação de Maria Paula Cantusio, do Santander. A chefe de Análise ESG e Temáticos apresentou a visão e a postura do banco em relação à temática. A profissional apresentou exemplos de como questões ambientais podem afetar os negócios tanto para o bem quanto para o mal. Sobre a questão dos eventos climáticos extremos ressaltou que “isso tem aumentado muito ao longo dos anos, cada vez ficando mais caro para o mundo como um todo e também para as empresas que sofrem os danos desses eventos climáticos. Então, hoje estima-se que eventos climáticos extremos trazem um impacto de 2% do PIB global e, se nada for feito, até 2050, a expectativa é que isso dobre para 4%”, compartilhou e completou: “quando falamos de uma empresa que está tentando inserir temas ESG na sua estratégia, [isso] também é como ela vai se sustentar ao longo dos anos”.
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