Por Rafaella Feliciano
Colaboração Fabrício Lourenço
Comunicação CFC
A inovação tecnológica tem contribuído para transformar a imagem e participação do profissional da contabilidade no mundo dos negócios, reforçando o seu papel estratégico na tomada de decisões. Frente aos diversos avanços, a Contabilidade se tornou um instrumento essencial na gestão, e o desafio está em se preparar para assumir esse novo papel.
Cloud computing, inteligência artificial, automação, blockchain, software são palavras que se tornaram grandes conhecidas do mundo contábil. Entre diversas opiniões, o consenso é claro: não há outra saída que não seja entrar no ritmo de aperfeiçoamento e inovações, e o profissional que não seguir por essa trilha poderá perder o caminho. A conclusão vem dos próprios empresários contábeis, que lidam, diariamente, com a implementação dos avanços tecnológicos.
“É necessário estar preparado, pois quem não se adaptar às mudanças vai sair do mercado em curto período de tempo”, acredita o empresário Marcelo Ângelo Domingues de Oliveira, da cidade de Manaus (AM). Segundo ele, o profissional deixou de ser guarda-livros muito antes da criação dos processos de informatização do Governo federal, como o Sped, por exemplo, e está acostumado a se adaptar às transformações.
“Há algum tempo, os contadores já trabalham com o suporte tecnológico para a realização de seus serviços contábeis e com a informatização dos órgãos públicos. Estudar, capacitar-se e ficar atento às novidades devem ser as principais metas do novo perfil do contador”, afirma.
Seguindo o mesmo pensamento, Ronaldo Xavier, empresário pernambucano, diz que adotar novas estratégias e ferramentas, como o uso das integrações, robotizações e plataformas digitais, é o que atualmente traz o diferencial, além da qualidade e da presteza dos serviços. “É possível perceber que o mercado não é mais do forte ou do maior e, sim, do que melhor se adaptar e utilizar as novas tendências tecnológicas”, garante. Em sua visão, é como se a figura tradicional do contador estivesse “sucumbindo” e, no lugar dela, “ascendendo o de analista de dados e conselheiro de finanças”.
“É um caminho sem volta, uma espécie de divisor de águas”, enfatiza o empresário Guilherme Sturm, que atua no Rio Grande do Sul. Mas, segundo ele, nem todo o mundo está preparado para essa divisão. “Conheço empresas contábeis que estão exatamente iguais há 10, 15 anos. A Contabilidade como a conhecemos, estritamente fiscal, está se tornando uma atividade meramente processual, com cada vez menos inteligência agregada e, com isso, o valor de muitas carteiras de clientes vai literalmente virar pó”, arrisca dizer.
Para o empresário contábil Eduardo Tostes, de São Paulo, que há mais de cinco anos estuda sobre os impactos dos avanços tecnológicos na profissão, entre todos os segmentos da economia mundial, a Contabilidade é a que mais sofre influências externas e tem seguido à frente no quesito “modernização”.
“As atualizações aparecem diariamente. A forma de o empresário contábil atual trabalhar é adaptada o tempo todo com base nessas inovações e, hoje, aprendemos a usufruir melhor das ferramentas tecnológicas que temos. Os softwares que utilizamos e que temos disponíveis no mercado, por exemplo, nos possibilitam um ganho monstruoso na produção, evitando o retrabalho com informações integradas desde o cliente, em suas movimentações bancárias e operacionais, até a integração dos nossos departamentos Contábil, Fiscal, Pessoal e Financeiro, com validadores que cruzam e buscam as informações virtualmente na base de dados dos órgãos públicos, trazendo uma maior velocidade e segurança nos resultados”, explica.
Para Tostes, os profissionais já não estão mais assustados com essas inovações e buscam, cada vez mais, meios de capacitação e aprimoramento. “O profissional e empresário contábil enxergou a necessidade de não ser apenas um executor operacional e levantou a cabeça para a preocupação na gestão de sua empresa. Com isso, vem aumentando o investimento no conhecimento em áreas, como empreendedorismo e tecnologia, e, claro, na Educação Continuada”.
No entanto, o empresário alerta: na hora da mudança, é preciso ter cuidado com o modismo. “Temos hoje um leque de opções tecnológicas na prateleira. É importante analisar a real necessidade da empresa e promover um planejamento minucioso das frentes antes de qualquer inovação”, completa.
Além disso, segundo ele, a inteligência humana sempre estará à frente da artificial. “Para que tudo funcione, precisamos de pessoas, de equipes preparadas e capacitadas para enfrentar e saber lidar com as inovações, senão de nada valerá qualquer tecnologia”.
Capacitação é o caminho
Aperfeiçoamento constante, maior qualificação, visão de negócios e habilidades analíticas deixaram de ser um diferencial e estão entre os requisitos essenciais para que um bom profissional possa ter êxito em sua carreira. “De fato, o profissional pode considerar a quarta revolução industrial como valiosa aliada da Contabilidade, e, nesse contexto, estreitar as relações entre a profissão e a educação será fundamental para ajustar as arestas desse processo não tão simples”, acredita o presidente do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Zulmir Breda.
Segundo ele, em um cenário econômico dinâmico e exigente, os profissionais necessitam de competência e conhecimento que os ajudem e os capacitem a agir com habilidade e cuidado. Nesse sentido, ele explica que o CFC tem buscado intensificar as ações do Programa de Educação Profissional Continuada (PEPC). Criado em 2003, o programa tem como objetivo atualizar e expandir os conhecimentos e competências técnicas, habilidades multidisciplinares, além de promover a elevação do comportamento social, moral e ético da classe contábil. É por meio do PEPC que os profissionais cumprem as obrigações necessárias para a manutenção dos registros no Cadastro Nacional de Auditores Independentes (CNAI) e no Cadastro Nacional dos Peritos Contábeis (CNPC) do CFC, registros estes adquiridos mediante aprovação no Exame de Qualificação Técnica (EQT).
“É impossível não mencionar que a busca por uma educação continuada se tornará cada vez mais essencial para se manter no mercado de trabalho. É sempre oportuno lembrar que a aprendizagem, ao longo do tempo, representa a busca por competência técnica, habilidades profissionais e valores éticos. E essa aprendizagem é fundamental para que os profissionais da contabilidade exerçam com excelência seu papel e atendam às expectativas da sociedade”, afirma Breda.
No entanto, o presidente do CFC também alerta que a humanização continua sendo essencial na realização do trabalho. “É preciso estar claro que tarefas, como entender o cliente em suas necessidades; elaborar a política contábil de um empreendimento ou de instituições; e explorar dados e analisá-los cuidadosamente, de modo a transformá-los em planejamento, contribuindo para o desenvolvimento econômico, definitivamente não são e não serão atribuições de um robô”, conclui.
Marcos Paulo Silveira, empresário contábil do Estado de Goiás, diz, por sua vez, que aliar tecnologia com inteligência humana tem sido uma das principais atividades da sua equipe. “Além dos treinamentos e capacitações para atualizar conteúdos e dominar ferramentas dos sistemas utilizados, promovemos oficinas de sensibilização, onde são trabalhadas as habilidades de escuta do outro, de ouvir para entender, otimizando, também, a comunicação e integração com o cliente”, conta.
Para ele, o profissional de sucesso é aquele capaz de estar atualizado ao tempo que também é proativo e capacitado. “É uma questão de atendimento natural aos objetivos das Ciências Contábeis: ser proativo a ponto de recriar, reformular, reelaborar a si e aos processos sempre que necessário”, completa.
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