Internacional: CReCER – Líderes Globais discutem sobre a visão do mercado financeiro, reguladores e investidores sobre o futuro dos relatórios não financeiros

Por Rafaella Feliciano
Comunicação CFC

Nos últimos anos, os relatórios não financeiros corporativos passaram por consideráveis progressos globais. As urgências com as questões ambientais, sociais e de governança (ESG) trouxeram novas abordagens e necessidades ao mercado de capitais. Mas será que os atuais relatórios não financeiros de contabilidade e auditoria existentes são os mesmos que os investidores esperam? E as empresas, estão preparadas para os cenários globais?

As questões foram abordadas na tarde desta terça-feira, durante o painel “Explorando o futuro dos relatórios ESG (Ambiental, Social e Governança), da 11ª Conferência Regional CReCER de Transparência e Responsabilidade pelo Crescimento Econômico Regional, que segue até quinta-feira, em São Paulo (SP).

O diretor executivo da Federação Internacional de Contadores (IFAC), Kevin Dancey, foi o moderador do painel e iniciou as discussões informando que é importante trabalhar pela melhoria na qualidade dos relatórios não financeiros com a padronização de normas, mas respeitando as exigências e necessidades de cada jurisdição regional. Para ele, não adianta apenas ter um bom discurso, na teoria, com a promessa das empresas de cumprimento dos objetivos do desenvolvimento sustentável das Organizações das Nações Unidas (ONU) se, na prática, os relatórios são ineficientes para os investidores e para as partes interessadas.

Ainda sobre os mercados financeiros, Veronica Poole, líder global de IFRS e Relatórios Corporativos da Deloitte, ratificou que o mercado de capital “só consegue funcionar de forma assertiva se possuir informações necessárias que permitam aos investidores decidirem onde vão investir corretamente os seus recursos”.

Para ela, as empresas precisam preparar relatórios que possuam consistência e comparabilidade dos dados para que os investidores possam tomar as melhores decisões. “E, hoje, nós não temos essas informações não financeiras de forma confiável. Existe uma lacuna enorme e o mercado sabe disso”, completou.

Gill Lord, líder global de políticas públicas da PWC, também participou do debate e citou dados alarmantes de um levantamento da organização Carbon Tracker sobre a narrativa climática nos relatórios não financeiros. De acordo com Lord, mais de 98% das empresas consultadas, em um âmbito de 130 grandes corporações espalhadas pelo mundo que mencionam alto risco climático, não apresentaram informações suficientes para demonstrar tais cenários. Além disso, todos os pesquisados apresentaram inconsistências da narrativa climática.

De acordo com a especialista da PwC, o levantamento, na verdade, traz o resultado de um equívoco que já se tornou realidade no mercado: existe uma desconexão do que se é desejado com o que é obrigatório. “É como se quiséssemos colocar um quadrado dentro de um círculo. Ou seja, existem inconsistências do que é dito para o que se é feito”, explica.

Mas, como solucionar esse descompasso e melhorar o padrão dos relatórios não financeiros?

Para Tadeu Cendon, membro do Conselho Internacional de Normas Contábeis da Fundação IFRS,  a normatização é o caminho para melhorar os relatórios ESG. Essa atmosfera de expectativa é alimentada, sobretudo, da proximidade de implementação das normas intituladas Divulgação de Informações Financeiras Relacionadas à Sustentabilidade (IFRS S1) e Divulgação Relacionada ao Clima (IFRS S2) ainda serem minutas em consolidação, cuja versões finais estão previstas para serem divulgadas em junho de 2023.

E o que esperam os investidores? Fábio Coelho, presidente-executivo da Associação dos Investidores no Mercado de Capitais (AMEC), entende que os segmento ainda não sabe exatamente que tipo de informação vai precisar para fazer uma avaliação correta das empresas considerando as informações não financeiras, já que o costume, há 30 anos, é avaliar os relatórios financeiros. No entanto, ele entende que os investidores passam por um momento positivo de mudanças e que precisam de informações padronizadas e que sejam comparáveis, por isso, vê como uma boa indicação as orientações por meio dos reguladores. “Quando o regulador começa a fazer o que devemos fazer, as coisas começam a acontecer mais rápido. E as empresas estão esperando por orientações que as obriguem a divulgar suas informações não financeiras. Talvez leve algum tempo, mas isso vai acontecer”, completa.

A 11ª Conferência Regional ainda discutirá temas como compras públicas sustentáveis, tecnologia e transparência e o futuro dos relatórios ESG.

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