Por Sheylla Alves
Comunicação CFC
O segundo dia do Conexão Contábil Região Norte começou na manhã desta quarta-feira (28) e levou a debate o painel “Amazônia e a agenda ESG na Gestão Empresarial”. Esta edição é organizada pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e pelo Conselho Regional de Contabilidade do Amazonas (CRCAM). Além de promover palestras e painéis que proporcionam conhecimento de qualidade para o público, o encontro recebe nomes do universo contábil e de áreas correlatas.
Para iniciar o painel, foram chamados o debatedor Ian Blois Pinheiro, atual presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Pará (CRCPA), e a moderadora do debate, Lucilene Florêncio Viana, conselheira do CFC. Os painelistas convidados foram a contadora Regina Cleide Teixeira e o controlador-geral da Universidade de São Paulo (USP), Edgard Cornacchione.
O debate deste painel permeou a reestruturação dos papéis sociais que as empresas ocupam diante da composição da agenda ESG. Para a contadora Regina, é preciso repensar a preocupação direcionada apenas às empresas de grande porte e “trazer essa reflexão desde o empreendedor informal até as grandes empresas”. “É dessa forma e com uma gestão compartilhada que atingiremos o bem-estar e os objetivos voltados para a sustentabilidade”, explanou.
Regina Teixeira também ressaltou a importância de as organizações trabalharem a agenda 2030 de desenvolvimento sustentável, promovida pelas Nações Unidas, com a divulgação de ações que visam cumprir essas metas, de forma consciente. “Nós já temos organizações que realizam ações de cunho social, mas relacionadas a campanhas contingenciais. Essas empresas estão trabalhando em marketing de causa, voltadas para determinadas ações e causas, sem implementarem isso em sua filosofia gerencial e em políticas realmente direcionadas ao equilíbrio social, ambiental e econômico da sociedade”, explicou.
Por isso, é necessário que essas organizações passem a implementar essas políticas em sua filosofia, busquem se preocupar realmente com a agenda e possam aplicar um calendário formal de ações com o propósito de planejamento social. Regina tratou dessas questões como essenciais para que as empresas possam se desenvolver no mercado e fomentar mais recursos. Além disso, a contadora cita a importância de entender o conceito de governança para uma real aplicabilidade dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), de forma a implementar padrões de qualidade em uma filosofia gerencial já definida, e enquadrar-se nas dimensões éticas.
"São cinco dimensões da ética empresarial. Para que a empresa consiga buscar uma sustentabilidade, é preciso trabalhar todos os programas, normas e procedimentos que visam aos parâmetros de qualidade e à implantação desse processo, além de estar apta para trabalhar com a auditoria interna e externa. É uma construção, um ciclo para que se comece a trabalhar uma filosofia corporativa", definiu Regina. Os aspectos sociais, ambientais e de governança vislumbrados na agenda ESG envolvem um processo de governança corporativa e um aprendizado contínuo com respeito à multiculturalidade em que essas organizações estão inseridas.
Para Regina, ainda falta às organizações consciência ambiental e conhecimento sobre o processo, para que, assim, seja possível garantir a sustentabilidade organizacional. Por isso, é necessário trabalhar a Metodologia do Índice de Sustentabilidade (ISE), que prevê a promoção nas organizações de capital humano, meio ambiente, governança corporativa, além da alta gestão, capital social e modelos de negócio com inovação aplicadas a agenda ESG. “É preciso mudar, e essa mudança começa com a cultura. É preciso começar a mudar a cultura em casa, nas empresas, na gestão pública e, principalmente, mudar a cultura do país”, finalizou Regina.
O controlador-geral da Universidade de São Paulo (USP), Edgard Cornacchione, iniciou a segunda parte do painel com a visão plural que o profissional da contabilidade detém no momento de aplicação da agenda ESG. “Nós temos um país único. O Brasil possui um enorme coletivo de texturas que nos dá uma diversidade única e, aqui na Amazônia, vemos claramente esses atributos. A USP, instituição à qual pertenço, realizou uma publicação sobre a floresta e o conceito de Rios Voadores – uma reflexão que não faz parte da pauta social diária, mas apenas daqueles que vivenciam ou pesquisam sobre a floresta. Estamos correndo o risco de nos excluir dessa discussão, mas, enquanto profissionais da contabilidade, temos todos os atributos para explorar essas informações e difundi-las de forma técnica e apropriada”, relatou Edgard.
Com dados sobre investimentos e investidores, o controlador refletiu sobre a visão que o contador tem diante das informações de reporte contábil – tema já explorado pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) e instigado pelas tomadas de decisões de organizações e do próprio contador. Nesse sentido, ressalta-se que cabe ao profissional da contabilidade propiciar relatórios referentes tanto à sustentabilidade quanto ao universo de investimentos, além das ações realçadas da instituição.
“Acredito que o ponto central desse debate está em definir o que são as tomadas de decisões e como o olhar perspicaz do contador pode ponderar todo um processo. Aqui volto a citar que esse processo finalizado é o report”, explicou Edgard. Para ele, é preciso singularizar as decisões e visar o capital, a rentabilidade, a performance, a liquidez e o risco; quando colocamos isso em prática dentro da agenda ESG, a situação fica ainda mais complexa. Mover as alavancas da gestão é um desafio, visto que as tomadas de decisões são avaliadas e existe uma responsabilidade ética e social na Contabilidade, que envolve o propósito de significado e de confiança.
Edgard falou que a Contabilidade dá significado ao processo da agenda ESG e aos respectivos eventos envolvidos, mas também dá significado econômico. “É uma profissão que, além de estar pautada na confiança dos interlocutores primários, também é pautada na confiança da sociedade”, complementou. Nesse processo, fechar o ciclo de tomadas de decisão é sempre estar “em busca da vantagem humana”, citou.
São os processos de transformações de organizações e sociedade que moldam os modelos de negócios. Quando essas transformações são feitas em conjunto com contadores, e as tomadas de decisões são transmitidas por meio dos relatos, os processos podem ser menos turbulentos.
Para finalizar a sua fala, Edgard levou dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) sobre questões territoriais de áreas de conservação ambiental e falou da delicadeza que o assunto envolve. De fato, “é toda uma questão delicada diante do mundo, que envolve tanto aspectos rurais nossos, como também de desenvolvimento econômico e de equilíbrio com o mapa de conservação. O fato de o Brasil ser um país único é o resultado de um país que sabe o seu papel diante do mundo”, concluiu.
Ao fim das palestras, foi aberta a rodada de perguntas, em que o presidente do CRCPA questionou sobre a dimensão técnica em relação à regulação dos relatórios de sustentabilidade e sobre o papel da Contabilidade nos mais diversos modelos de gestão.
O Conexão Contábil é um espaço que promove o Programa de Educação Profissional Continuada (PEPC), sempre com palestras e debates gratuitos, que levam conhecimento de qualidade a todos os profissionais participantes.
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